01
jun
A ilusão do meu pai a respeito da resistência das coisas
Meu pai é ótimo. De verdade. Nessa história toda de #apartamento, ele me leva pra cima e pra baixo, compra coisas, recebe coisas, agenda coisas, carrega coisas, conserta coisas, lida com prestador de serviço e já conhece melhor meus porteiros e minhas vizinhas do que eu mesma.
Mas ninguém é perfeito. Meu pai tem uma imaginação meio viajante a respeito da resistência de objetos.
Caso 1: a vez que meu pai achou que podia usar a concha de plástico do kit de brinquedos de praia para tirar tinta latex da lata. Tinta latex é densa, sabe. Brinquedos de praia são de plástico, e não dos mais resistentes. Resultado? Meu kit de brinquedos de plástico da infância tinha o balde vermelho, a pá azul, o rastelo amarelo e a peneira branca. A concha verde? Nem lembro de ter usado. Quebrou.
Caso 2: a vez que meu pai usou minha tesoura de coelho para abrir uma caixa de leite. A tesoura de coelho, para variar, era de plástico. Era para crianças, sabe. A caixa de leite era uma tetra-pak. Se você fosse jogar jó-ken-pô com tesoura de plástico versus caixa tetra pak, as regras seriam diferentes.
Caso 3: a vez que meu pai tentou consertar a Barbie da Leda. A culpa foi da Leda, nada delicada, que arrancou a cabeça da Barbie na primeira vez que foi pentear o cabelo da boneca. Mas como explicar a lógica do meu pai de pegar um alicate para tentar consertar — e arrancar uma lasca do pescoço da coitada?
Caso 4: a vez que meu pai resolveu “testar a resistência” da minha mesinha do quarto no apartamento. Basicamente eu passei a manhã inteira usando o notebook da mesinha com mecanismo krok (é esse o nome juro) que o marceneiro instalou no meu quarto enquanto esperava o entregador da geladeira. O mecanismo deixa você dobrar a mesinha para ficar encostada na parede, dentro da minha filosofia de “não criar superfícies para acumular coisas no quarto”.
Aí meu pai gentilmente foi lá me cobrir enquanto eu almoçava e não resistiu à tentação. Deve ter sido mais forte que ele. Ele apoiou as duas mão na mesa para ver se era resistente. E aconteceu isto aqui:
Sim, ele arrancou a bucha da parede. E ainda acusa a mesa de não ser resistente. PAAAAAI, é uma mesinha pra colocar o notebook. Não para forçar para baixo.
Passei os minutos seguintes dando bronca no meu pai (desculpa) e proibindo ele de “testar a resistência” da mesinha da cozinha. Por coincidência, tínhamos feito essa observação duas semanas atrás, na loja de móveis, quando o dono comentou que as mesas elásticas (as que você consegue aumentar para fazer caber mais pessoas) são mais frágeis. Minha mãe e eu comentamos nessa hora: “não pode se apoiar numa dessas igual você faz para levantar na mesa de casa”. Porque ele faz isso na mesa de casa, e passamos angústia quando ele vai se levantar na casa dos outros com mesa de tampo de vidro.
Enfim. Ele prometeu consertar. Ou chamar alguém que consiga consertar. “Aí você aproveita e instala minha lavadora. E meu fogão. E depois o meu depurador em cima do fogão”.
Ninguém é perfeito. Meu pai é ótimo.